Sou apaixonado por histórias nas quais, de alguma forma, existe certa tensão entre os heróis e seus adversários. No decorrer da vida, eu me identificava com os mocinhos e suas causas e pensava ser um representante fiel dos ideais representados pelos meus heróis. Essa foi, por muito tempo, a imagem que eu tinha de mim mesmo, até me deparar com o texto de Romanos 5:10: “Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela Sua vida.”
Como assim? Eu, inimigo de Deus? Para mim, inimigo sempre foi sinônimo de vilão – basta lembrar que chamamos o diabo de inimigo. Confesso que, embora ser chamado de inimigo tenha sido frustrante, tive que dar o braço a torcer ao analisar minha relação com o pecado. Contudo, não demorou para que eu notasse que essa definição não era permanente, uma vez que a Escritura diz: “Quando éramos inimigos.”
Confesso também que as histórias pelas quais me apaixonei tinham, em sua maioria, a redenção do vilão como um ponto alto da narrativa. Eu adorava ver o inimigo caindo em si e mudando de lado, trabalhando ao lado do herói para que a paz fosse estabelecida. Isso sempre me deixou extasiado. Em outras palavras, mesmo sem saber, eu era um forte adepto da máxima de Abraham Lincoln: “Por acaso não destruímos nossos inimigos quando os tornamos nossos amigos?”
Foi exatamente esse o maior legado de Jesus. Enquanto Maquiavel aconselhava que fossem oferecidos “aos amigos os favores e aos inimigos a lei”, Jesus resgatou os inimigos da maldição da Lei (Gl 3:13) e concedeu-lhes tratamento imerecido. Ao ensinar, por exemplo, que se deveria amar e orar pelos adversários (cf. Mt 5:43, 44), Jesus deu a cara a tapa quando poderia ter dado tapa na cara, e ofereceu à humanidade uma mudança permanente de status: de ex-inimigos a reconciliados. Esta é, inquestionavelmente, a história mais sensacional que a humanidade poderia ter conhecido e experimentado.